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VIAGEMCRÔNICA

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Gilberto Gil

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Crônicas sobre uma viagem que só termina no último suspiro.

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Um filme em Puerto Varas

Atualizado: 31 de jul. de 2019

"Hoy mi playa se viste de amargura porque tu barca tiene que partir"



Foi numa viagem ao sul do Chile onde usei pela primeira vez minha câmera fotográfica chamada Cartas de Amor. É uma Lomo, analogica, Diana F+, 12 poses, versão namorados (edição Love Letters). Gostaria de experimentá-la numa ocasião especial. E uma viagem escolhida parece prometer nos levar automaticamente para um território onde tanto o espetacular quanto o banal têm cores especiais.


Depois de 9 dias de viagem, 2 grandes capitais e algumas cidades menores, Diana ainda estava dormindo. Não tinha surgido ainda a oportunidade (ou vontade? sensação?) de abrir e fechar sua pálpebra absorvendo as cores que dariam forma à memória. Mas então recebi um convite. “Fique uma noite mais, vamos à praia amanhã?”.


A Diana estava ansiosa para escrever seus versos apaixonados num filme 120mm colorido. Paisagens de um verde mais que verde, senhores molhados de chuviscos ao comprar peixes no cais, crianças concentradas no museu atentas ao pintor, casas geminadas de madeiras coloridas, o reflexo dos raios de sol na água azul, seu rosto ao fundo encoberto por 2 ou 3 mechas do meu cabelo e tudo mais que pudesse ser uma declaração de amor.


Fomos à praia. Levei a Diana comigo e deixei a câmera digital guardada na mala. Por mais que me policie, às vezes a câmera digital, infinita, é um apoio e uma tentação para quando estou escorregando no ócio ou inquietação; ou no medo de esquecer determinada imagem que resumiria um momento especial. Não queria a tentação de tirar fotos a todo instante. Estava exatamente permitindo que Mnemosine agisse por conta própria, guardando, selecionando e esquecendo. Me lancei ao sol e resolvi ter comigo apenas a Diana e tirar somente 1 foto durante todo o dia. Se eu tivesse que beber a água do Lete, a sorveria com complacência.


Fomos à praia. Ao lindo lago que significa “lugar profundo”, água geladíssima, muito azul do céu, muito azul do lago, vulcão de cone perfeito e cume glacial, o som das rochas cinzas miúdas sendo arrastadas docemente pelas ondinhas, abraço dentro do lago, um beijo e a luz sentimental do desafogo, em Puerto Varas, Chile.


Tirei 1 foto, como determinado. Horas depois, desobedeci. Sem querer resistir, fiz outra. Fiz o que era preciso fazer: fugir do planejado, ter menos controle, permitir o movimento da minha vontade. Tão tranquilo quanto aquelas ondas, cheio de vida como aquelas abelhas.


Ainda hoje não revelei o filme e não sei como as fotos saíram. Não há um local confiável onde moro para revelar um filme delicado, vencido. Dizem que esse processo deve ser cuidadoso e pensando conjuntamente pelo laboratório e o fotógrafo. Então, resolvi esperar pelo lugar certo para por o ponto final nessa carta escrita em conjunto.


E confesso que fico ansioso com o que pode emergir. Será que a foto ficou nítida? Aliás, será que há foto? Ou haverá apenas minha lembrança. Um desejo pulsante de manter e trazer uma sensação, embora correndo o risco de ser apenas um borrão e de existir cada dia mais, menos.




 
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